Para garantir que produtos como carne, leite e derivados cheguem ao supermercado com a qualidade que o consumidor precisa, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em conjunto com a Universidade Laval, no Canadá, desenvolveram um teste capaz de detectar espécies de bactéria nos produtos.
Conforme a instituição, o teste está em processo de registro de patente e poderá ser usado também em controle de contaminações em hospitais e de infecções em indivíduos imunossuprimidos.
Presença de bactérias
A professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos (DTA) da UFV, Monique Eller, é uma das responsáveis pela invenção do teste de detecção. Ela explicou que, na fase de processamento de laticínios e carnes, a espécie da bactéria Pseudomonas fluorescens se desenvolve mesmo sob refrigeração, com produção de enzimas que conseguem se manter ativas depois dos processos de pasteurização e esterilização.
No leite, por exemplo, se a contaminação aconteceu antes do tratamento térmico, as enzimas que não foram inativadas continuam agindo dentro da caixa, provocando algo semelhante a uma nata no fundo da embalagem, processo conhecido como gelificação. O desenvolvimento destas bactérias em produtos lácteos também gera manchas coloridas nos produtos e afeta o rendimento na produção dos derivados lácteos, causando prejuízos.
A professora garantiu ainda que essa espécie é comum no ambiente e, normalmente, não causa danos à saúde. O maior problema, porém, é que este gênero de bactérias forma um biofilme, ou seja, uma espécie de proteção para a bactéria, que gruda até mesmo em materiais mais fáceis de sanitizar, como o aço inox.
“Sozinha, a P. fluorescens não causa doenças, mas é comum que patógenos como a Salmonella spp. e a Listeria spp. colonizem os biofilmes formados, ficando mais protegidos e permanecendo no equipamento mesmo após alguns procedimentos de limpeza. Estando ali, elas podem contaminar os alimentos durante o processamento. Estas sim, são danosas à saúde”, explicou.
Hospitais
Já nos hospitais, o problema é a espécie Pseudomas aeruginosa. Esta espécie, do mesmo gênero da dos alimentos, é mais perigosa e causa infecções oportunistas em pacientes já debilitados.
“A presença dela está ligada a infecções em vítimas de queimaduras, de problemas hematogênicos e dos tratos urinário e respiratório. O biofilme produzido pelas bactérias dessa espécie entope cateteres e também pode abrigar outros patógenos presentes no ambiente, provocando infecções hospitalares”, completou a professora.
Como funciona o teste?
Conforme divulgado pela UFV, a técnica consiste em pingar uma gota da substância desenvolvida nas superfícies ou em soluções com suspeita de contaminação.
Esta solução foi desenvolvida com uso de uma proteína de um vírus que infecta, especificamente, bactérias do gênero Pseudomonas. Se estas estiverem presentes, uma espécie de grumo preto se forma na superfície em menos de 1 minuto.
O resultado é rápido e visível a olho nu. Segundo os pesquisadores, a tecnologia é inovadora, segura, de fácil manipulação e não exige equipamentos especiais ou intermediários para realização.
Identificação precoce
De acordo com a professora Monique, as indústrias de alimentos já têm protocolos de descontaminação para estes microrganismos. “O problema estava na identificação precoce deles, por isso acreditamos que o kit vai ajudar muito no controle de qualidade dos alimentos”.
Para a médica e pesquisadora Izabela Botelho, que também integra a equipe, “a identificação precoce dos microrganismos causadores de infecções nas clínicas e hospitais poderá direcionar medidas de tratamento mais assertivos com antibióticos, diminuindo a seleção de microrganismos resistentes e reduzindo o número de tratamentos inespecíficos ou mesmo incorretos aplicados”.