Há um ano, o Banco Central (BC) introduziu na fauna monetária brasileira o Lobo-Guará – representado pela cédula de R$ 200, anunciada em 31 de julho, que passou a circular no 2 de setembro daquele ano. À época, o órgão havia encomendado 450 milhões de notas à Casa da Moeda, que foram entregues à instituição alguns meses depois, custando R$ 113,8 milhões a mais no orçamento do que o previsto. Apesar disso, até o último dia de agosto de 2021, pouco mais de 80 milhões delas estavam, de fato, em circulação – 17,8% do total produzido.
Isso faz com que o efeito de “nunca vi, nem comi, só ouço falar” seja uma das marcas da criação da cédula. Para comparação, a nota mais comum em circulação no país é a de R$ 50, com quase 2,2 trilhões de unidades rodando nas mãos dos brasileiros. A segunda e a terceira mais comuns, completando o pódio, são, respectivamente, a de R$ 100, com 1,8 trilhão de cédulas, e a de R$ 2, com 1,5 trilhão de exemplares à solta.
A percepção, defende o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, pode ser explicada, principalmente, por dois fatores: a alta na ‘bancarização’ da população e o uso mais recorrente de meios eletrônicos para transações.
“O governo superdimensionou a necessidade das notas de R$ 200. As cédulas não foram emitidas para que o governo pudesse ter mais dinheiro para usar em diferentes programas, mas por uma questão funcional, de facilitar as trocas. Quando houve a pandemia e o governo decidiu atender 60 milhões de pessoas com auxílio emergencial, nasceu a ideia de que havia necessidade de mais papel moeda. Mas o que se viu é que as pessoas passaram a usar mais os meios eletrônicos”, detalha.
Na prática, entre 2 de setembro de 2020 e 31 de agosto de 2021, o valor somado das notas que circulam no Brasil – assim como a quantidade de cédulas – caiu. No ano passado, havia R$ 345,7 bilhões e, neste, R$ 333,8. O número de notas, respectivamente, caiu de 8,4 bilhões para 7,7 bilhões. Rochlin argumenta que os números corroboram com a tese que descreveu.
Não dá nem pro churrasco
Se há algum tempo R$ 200 era muito dinheiro, atualmente a grana não dá para fazer “festa”. Conforme o site Mercado Mineiro, o preço da gasolina, em média, é de R$ 6,10. Ou seja, com a nota do lobo-guará daria para comprar pouco menos de 33 L do combustível, o que não enche o tanque nem de um carro popular.
Fazer churrasco, então, nem pensar. O preço do quilo da alcatra, chega a passar dos R$ 40, conforme o site – seria suficiente para cinco quilos. Já de cerveja, a R$ 5 a lata, seria possível comprar 40 unidades.