Coluna da Psicóloga Fernanda Dalla Paula
As pessoas realmente podem mudar?
Em minha profissão digo que sim, e enquanto experiência pessoal, também digo sim. É muito comum escutarmos por aí que “ninguém muda”. Bom, se haver desejo do sujeito, poderá sim existir mudança.
Veja bem, enquanto psicóloga e psicanalista eu não me interesso em o que a pessoa deve ou não mudar, mas em seu desejo de fazer alguma outra coisa com a mesma coisa de sempre! Já percebeu que comumente resolvemos as situações da mesma forma? Exemplo, sofrendo demais ou de maneira agressiva. Seja lá qual for o contexto é a mesma maneira de resolução.
Outro bom exemplo, o sujeito percebe que tem o mesmo problema com pessoas distintas. Será mesmo o destino? Eu aposto em outra coisa. Minha aposta é que o sujeito não sabe fazer diferente.
Somos mais infantis do que imaginamos, repetimos sentimentos do passado em tempo atual, a nossa criança é muito mais velha do que o adulto que aparenta em nossos corpos. Estamos fixados no infanto e por isso realizamos e nos queixamos as mesmas coisas, como se não fosse possível fazer diferente, e uma das muitas questões em que nos obstina em fazer do mesmo jeito, é o saber junto com o não saber.
Em um processo analítico o analisando fala e escuta sua própria versão, por conta disso percebe que é ele(a) mesmo(a) que não se permite fazer de outra maneira, independente do contexto, a fixação no passado inconscientemente bloqueia possíveis novas versões a serem percebidas e sentidas no presente.
Nada muda de um dia para o outro, não concerne a um corte radical, tudo na vida é um processo, ninguém se torna adulto de uma hora a outra, existem fases, momentos que sustentam o atual, mas qualquer coisa só modifica por permissão para que uma outra coisa venha a acontecer.
Tem um texto de Clarice Lispector que diz que o Sim foi quem criou o universo, uma molécula disse sim a outra e assim o universo foi se fundindo e existindo. A criação traz por si mesma versos, poemas, mitologias, estórias. A criação condiz a um saber que distingue de conhecimento.
Para criar é preciso saber não necessariamente conhecer, afinal o conhecimento responde perguntas, conhecimento é substantivo, enquanto o saber concerne a execução, é verbo, condiz a sentir, falar, atuar, existir, viver .
REFERÊNCIA:
Lispector, C. A hora da estrela. Rocco. Ed 1. 16, Nov, 2020.